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MOVIMENTO DOS "COM GRANA" - FALSOS CONDOMÍNIOS




Por Pedro Castelos

Muito se fala,  debate e comenta sobre os movimentos proletários  que se organizam e lutam por um punhado de terra para começar suas vidas, alimentar suas míseras famílias e, quem sabe, produzir, através de cooperativas organizadas, um pouco de riqueza para a nação, através do cultivo de alimentos e outras culturas essenciais, criando assim uma nova geração de trabalhadores, na maioria braçais. São os chamados “sem-terra”, os “sem-teto”, os “sem-documento”, enfim, todos os que estão à margem de uma sociedade dita decente.
Políticos se movimentam a favor ou contra esses movimentos, a polícia reprime, as milícias particulares atuam, mandam matar, e as autoridades ou se omitem ou pretendem nos convencer que as reformas devem ser lentas e gradativas. Isso todo mundo já sabe, sai nos jornais, na TV.
No entanto, existe um outro contingente, uma minoria é claro, mas com muito mais poder de fogo: o MCG, Movimento dos Com-Grana!

Esses afilados, que não usam bonés vermelhos, mas sim bonés dos Lakers ou dos NewYorkers, (o Lula que se cuide) habitam a periferia das grandes cidades, não a que conhecemos como “periferia”. São sim redutos de muita sofisticação e conforto, modernos esquemas de segurança, e, principalmente, poder. Seja através da política, do dinheiro, do “sabem com quem está falando?”, eles conseguem tudo. Eles conseguem terra fácil, basta invadir as áreas públicas. Conseguem alvarás de construção inimagináveis, desmatam e criam aterros criminosos. Eles conseguem até não pagar impostos sobre o montante de seus patrimônios. Eles conseguem não ser citados por um oficial de justiça. Eles não são encontráveis. Estão sempre viajando. Eles conseguem tirar vantagem de tudo, fazem aparecer dinheiro de cartolas, quando qualquer mágico ficaria boquiaberto.
Conseguem ter suas próprias leis , independente das que conhecemos, muitas em desuso, como o Código Civil, a Constituição Federal, Leis Municipais, Estaduais, Meio-Ambiente. Eles constroem quadras de tênis , piscinas, centros de “lazer-próprio”, em “terras-de-ninguém”, segundo eles mesmo as chamam, claro. Eles são os colonizadores do futuro, ocupando terras abandonadas ou não, como no tempo dos descobridores, criando uma sociedade mais sofisticada e saudável, segundo eles. O que eles não dizem é que eles vão mandando para cada vez mais longe o pobre que, sem-teto, sem-documento e sem-terra, vai ter que tomar 3 ou 4 conduções para servir os “com-grana”, muitas vezes morrendo no trajeto, por falta de segurança, transporte decente, atendimento médico, vivendo numa habitação desumana, sem escolas para os filhos, sem qualquer infraestrutura, abandonados que são pelo poder público, sem qualquer direito ao conhecimento de sua cidadania.
Mas vamos confessar, os integrantes do MCG, são pessoas de bem, bem-criadas, bem-educadas e bem-letradas. Podem ser grandes empresários, juizes, desenbargadores, advogados, delegados, médicos e principalmente políticos, ou os que vivem ao seu entorno: fiscais, engenheiros de organismos públicos, vereadores e principalmente os “aspones”. Eliot Ness diria, esses verdadeiramente sim são “Os Intocáveis”. Nada contra as profissões citadas (algumas talvez!), portanto os dignos que me perdoem. O que me incomoda é vê-los sendo tratados pelo pobre de “doutô “ isso, “doutô” aquilo., sem qualquer merecimento.
Agora qualquer “doutô” cerca meia dúzia de ruas, constrói uma portaria com aparato de bunker, contrata escoltas e uma boa Administradora com livre tráfego nos órgãos públicos. Aí conseguem rapidamente transformar tais áreas em bolsões residenciais com o aval dessas prefeituras periféricas, depois criam uma Sociedade de Bairro para benefícios particulares, elegem um presidente, criam balcões de negócios e especulam comercialmente áreas públicas segundo suas próprias leis, impedindo acessos e obrigando o trabalhador e morador comum a caminhar 3 vezes mais do que seria o seu percurso normal. Depois de um tempo os “doutores” passam a chamar o bolsão de Condomínio, obrigam indistintamente qualquer morador a estar sujeito às suas leis, e alegam que você tem a obrigação de fazer parte da tal Sociedade de Bairro, cobram o que lhes vem à telha, constroem novas portarias, sub e mini-condomínios internos, desmembram terrenos, desviam córregos e esgotos, criam aterros que são verdadeiros lixões, desrespeitando as leis de zoneamento municipais, e, principalmente, aviltam o direito do cidadão, o de “ir e vir”, o de “se associar e desassociar” dessas redomas de impunidade e benefício individual, em detrimento do bem-comum. Tudo isso com o patrocínio exclusivo da grande maioria dos órgãos oficiais, sejam eles do Município ou do Estado, que a tudo assistem indiferentes, inclusive às “passeatas” do MCG, aliás, verdadeiros “passeios públicos”.
Fica a pergunta: Até quando vamos ter de assistir indiferentes ao desfile portentoso do MCG serpenteando nossa periferia?
Ao contrário dos movimentos conhecidos, seus integrantes não usam pás, nem foices, nem enxadas. Portanto, não há perigo. Eles usam apenas algumas canetas douradas de boa marca!

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